PONTO DE REFERÊNCIA HISTÓRICO-CARISMÁTICO

Dom Bosco, sob a inspiração do Espírito Santo, teve uma clara consciência de ser chamado por Deus a uma missão singular em favor dos jovens pobres. Sinais do alto, hábitos naturais, conselhos de pessoas prudentes, discernimento pessoal, circunstâncias que se acumulavam providencialmente, convenceram-no de que Deus o enriquecia com dons singulares e lhe pedia uma entrega total aos jovens: «Prometi a Deus que até o meu último respiro seria pelos meus queridos jovens» (C 1).
Esta missão para a qual o Senhor chamava Dom Bosco tem o seu traço caracterizante nos jovens, especialmente os mais pobres (C 26). Sem eles Dom Bosco torna-se irreconhecível: «Por vós eu estudo, por vós trabalho, por vós vivo, por vós estou mesmo disposto a dar a vida» (C 14).

Mas juntamente com o campo de trabalho, Dom Bosco entreviu a finalidade original da sua missão: revelar o amor de Deus aos jovens pobres. Intuiu também os princípios inspiradores de um estilo pastoral adequado a essa finalidade: o estilo do Bom Pastor.

Dom Bosco dedicou toda a sua vida aos jovens num projecto de vida fortemente unitário: a sua vida sacerdotal e acção educativa, as suas múltiplas relações e profunda espiritualidade, tudo se orientava para o serviço aos jovens; «Não deu um passo, não disse uma palavra, nada empreendeu que não tivesse em vista a salvação da juventude» (C 21).

Deus não deixa de chamar muitos outros crentes como continuadores da missão de Dom Bosco em favor dos jovens, antes de tudo os salesianos (SDB), por Ele consagrados, reunidos e enviados para serem na Igreja sinais e portadores do amor de Deus aos jovens, especialmente os mais pobres.

Com eles participam na missão de Dom Bosco, de acordo com a respectiva vocação e estilo de vida, outros grupos da Família Salesiana e um vasto movimento de pessoas e grupos, homens e mulheres, pertencentes às mais diversas condições de vida, que formam o Movimento Salesiano.

A missão salesiana, partindo de Dom Bosco e da sua experiência de Valdocco, estende-se ao infinito e convoca muitas pessoas e grupos a uma convergência espiritual e participação educativo-pastoral, em vista da promoção integral dos jovens, especialmente dos mais pobres.

UMA ESPIRITUALIDADE NA MISSÃO:
O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO

A missão e o projecto de vida de Dom Bosco, partilhados pela Família Salesiana, exprimem-se num estilo de vida e acção – o espírito salesiano -, são centrados na caridade pastoral, caracterizados pelo dinamismo juvenil, que se manifesta intensamente em Dom Bosco e nas origens da nossa Família (cf. C 10).

Este espírito salesiano encarna-se e manifesta-se na experiência espiritual e educativa de Dom Bosco no primeiro oratório de Valdocco, experiência a que deu o nome de Sistema Preventivo, que pertence à própria essência da nossa missão: é a nossa maneira de exprimir a caridade pastoral. O sistema preventivo condensa o que Dom Bosco quis ser, o âmago do programa ou projecto pedagógico e pastoral por ele actuado e confiado particularmente à Família Salesiana.

Constitui uma rica síntese de: uma experiência espiritual, uma proposta pastoral de evangelização da juventude e uma metodologia pedagógica.

Uma experiência espiritual

O sistema preventivo encontra a sua fonte e o seu centro na experiência da «caridade de Deus, que previne todas as criaturas com a sua providência, as acompanha com a sua presença e as salva oferecendo a vida» (C 20).

Os salesianos na escola

A escola salesiana nasce no Oratório de Valdocco (Sec. XIX, Norte de Itália) para responder às necessidades concretas dos jovens e insere-se num projecto global de educação e evangelização dos jovens, principalmente dos mais necessitados.

O sector escola desenvolveu-se muito na Congregação como resposta às exigências dos mesmos jovens, da sociedade e da Igreja, tornando-se um movimento de educadores solidamente constituído na esfera escolar.

Consideramos a escola como uma mediação cultural privilegiada de educação em que se pode dar uma resposta sistemática às necessidades da idade evolutiva; como uma instância determinante na formação da personalidade, dado que transmite uma concepção do mundo, do homem e da história (cf. SC 8); e como uma das formas mais importantes de promoção humana e prevenção da marginalidade.

Reconhecemos o valor fundamental da escola como ambiente em que o Evangelho ilumina a cultura e se dá uma eficaz integração entre o processo educativo e o processo evangelizador. Esta integração constitui uma alternativa educativa importante no actual pluralismo da sociedade.

Inserimo-nos no movimento que educa e evangeliza através da escola, contribuindo com o património pedagógico herdado de São João Bosco e enriquecido pela tradição posterior (cf. CG21, 130).

Neste empenhamento, a actual realidade sócio-política e cultural, as novas orientações de renovação escolar nos diversos Estados e a própria realidade interna das escolas, a actual presença comum de rapazes e raparigas, em que se cruzam muitos (e, por vezes, divergentes) elementos legais, financeiros, laborais, didácticos, etc., apresentam novas e complexas dificuldades e desafios aos quais procuramos responder com uma maior qualidade educativa e profissional e de forma significativa, fiéis à nossa identidade carismática.

Os salesianos nos centros de formação profissional

Tal como as escolas, os centros de formação profissional (CFP) nascem no oratório de Valdocco: Dom Bosco na sua opção educativo-pastoral pelos jovens em dificuldade, mostra uma grande sensibilidade pelo mundo do trabalho e seus problemas mais urgentes (imigração dos jovens para a cidade, falta de preparação para o trabalho industrial, exploração, abandono…). Logo desde o início, organiza no Oratório pequenas oficinas, que depois se transformam nas escolas de “artes e ofícios” e, com o padre Rua, nas escolas profissionais. Ao mesmo tempo, ajuda os jovens na procura de emprego, munindo-os de contratos de trabalho para evitar serem explorados. Este serviço e apoio serão enriquecidos com a vocação e a presença do salesiano coadjutor.

A formação profissional torna-se património da Congregação Salesiana e uma das exigências mais sentidas na sociedade. Actualmente temos uma grande variedade de escolas e centros de formação profissional formais e não formais.

Tal como Dom Bosco, os salesianos estão convencidos de que, mediante este tipo de intervenção, ajudam os jovens dos meios populares não só a preparar-se e inserir-se criativamente no mundo do trabalho, mas também no seu crescimento integral. Favorecem assim uma visão humana e evangélica do próprio mundo do trabalho.

A nossa sociedade tecnológica, em contínuo progresso, apresenta-nos algumas dificuldades e desafios de índole técnica, financeira, legal e pedagógica, às quais importa responder corajosamente com o máximo de qualidade educativa, fiéis à nossa identidade carismática.

De: Pastoral Juvenil Salesiana: “Quadro de referência fundamental”. Dicastério da Pastoral Juvenil, Roma 2000.