Matrizes de ser e intervir

Segundo o “desenho antropológico” proposto pela Humanidade 21 (H21), a pessoa humana é um ser único e irrepetível, “feito” segundo matrizes de 

Espírito, InteligênciaVerdadeAmor e Liberdade

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«Podemos pretender ser quanto queiramos; mas não é lícito fingir que somos aquilo que não somos» (Ortega y Gasset)

ESPÍRITO: Paixão por DEUS, pelo eterno


O ser humano também é corpo fisiológico, naturalmente provisório, mas não se reduz a este. Para a família e a escola católica «o ser humano não é um ser corporal com experiência espiritual. É um ser espiritual com experiência corporal» (Teilhard de Chardin). Esta opção reconfigura a identidade do ser e do ser-para-os-outros em vista do “homem novo” que é espiritual.

Corolários educativos:

  • A opção por Jesus Cristo (opção JC), morto e ressuscitado, é uma certeza central a propor convicta e explicitamente no currículo educativo.
  • A reconfiguração do “homem novo” revisita todas as dimensões do ser humano, em particular as quatro precedentes: inteligência, amor, liberdade, valor.

INTELIGÊNCIA: Paixão pela verdade


Inteligência é a matriz de ser que capacita para ler a realidade dentro (lat. Intus legere), até ao âmago. Fá-lo independentemente e até contra quaisquer circunstâncias incómodas ou adversas. A sua vocação-meta é apenas a verdade. A inteligência é mãe da paixão pela verdade: incansavelmente procura, investiga, questiona, aprofunda, desenvolve sementes, partilha, contesta…

A verdadeira inteligência recusa abrir os olhos pela metade.

Corolário educativo:

  • Quando o ser humano pensa, reflecte, questiona, procura a verdade, é bem diferente de quando segue acriticamente opiniões alheias, a “mainstream”, o política ou ideologicamente correcto…

VERDADE – Valor – Ética: Paixão pelo ser em si e para os outros


O ser humano é, ao mesmo tempo, um valor absoluto e um valor relativo. É valor absoluto em relação a tudo o que não é humano: ideologias, política, economia, finança…

Frente aos outros, cada ser humano torna-se naturalmente relativo, não por confronto ou oposição, mas por doação e entrega: define-se sendo ele próprio, com e para os outros.

Corolários educativos:

  • Família e escola católica não se limitam a uma mera adesão teórica e ou afectiva aos valores. Ensinam-nos e praticam-nos em forma de VIRTUDES de ser-com-e-para-os-outros.
  • O currículo educativo integra explicitamente o ser-com-e-para-os-outros, excluindo terminantemente (de)formar aprendizes de ser-tudo, que perpetuarão multidões de figurantes e excluídos-de-ser. 

AMOR: Paixão pelo outro, pelo “nós”


Quando a realidade a conhecer são pessoas, a inteligência sede a primazia ao coração. A fatia essencial de conhecimento do (O)outro não é fruto de descoberta, mas de revelação. É o (O)outro que se revela, desvela o seu “rosto”. E quanto mais amado é, mais conhecível se torna e também mais amável. O amor é aqui o recurso mais fiável de conhecimento. Querer bem para melhor conhecer (cfr. S. Agostinho)!

Podemos chamar-lhe inteligência do coração? É por aqui o acesso à Revelação do “rosto” de Deus?!

Corolários educativos:

  • O “nós” que auto-realiza não é colectivista ou massa. É comunidade formada por pessoas que, por decisão e por amor, vivem a sua identidade, valor e dignidade com e para os outros.
  • Comunicar é dar e receber verdade e bem querer.
  • Quando quer bem, o ser humano é bem diferente de quando quer mal, odeia, é indiferente…

LIBERDADE: Paixão pela autonomia interdependente


A liberdade é das mais nítidas “explicações” do ser humano. É este “pó de Deus”, de que é feito, que mais o identifica: poder tomar decisões – arcando com as respectivas consequências – e intervir a partir das descobertas da própria inteligência, da consciência da sua identidade e dignidade, das exigências da ética, da paixão pelo (O)outro.
Corolários educativos:

  • O “condicionamento operante” (Skinner) não funciona em educação (prémios e castigos!).
  • A imposição pode roubar alma e talento, mas nunca dá nem uma nem outro.
  • É mais humano tomar decisões a partir do ser do que do dever.
  • O ser humano pode tomar decisões definitivas de verdade e de bem-querer.

A ALMA DO EDUCADOR!…

A força propulsora desta antropologia reside na alma de cada educador, entusiasticamente entregue à missão de amar, de aprender e de criar, de ensinar a aprender e a criar, entregue ao prazer e ao dever de ser e de ensinar a ser integralmente pessoa, amando e desafiando os educandos a desenvolver ao máximo possível todas as suas potencialidades, todas as suas sementes de talento e de virtude.

O educando pode tornar-se pensador, criativo, amante, generoso, livre, “empoderado”, crente-discípulo-missionário, se os seus PAIS e EDUCADORES também o forem. Líder não é quem manda mas quem inspira!

«Às vezes temos quer ser forma “Condicional”. Nunca “Particípio passado”. A ser mesmo é “Gerúndio” e “Futuro”! “Só se pode avançar quando se olha longe!”» (Ortega e Gasset).